Imagine voltar no tempo, mais precisamente na transição da Idade Média para a Moderna, período em que houve o movimento chamado de Renascença, que começou lá na Itália e aos poucos foi se espalhando pela Europa Ocidental, abrangendo França, Espanha, Alemanha e Inglaterra. Tudo isso por volta do meio do século XIV e durando até o fim do século XVI. A história conta que o movimento teve como causa a queda de Constantinopla, que levou muitos estudiosos a se instalarem na Itália, trazendo consigo textos clássicos e impulsionando a cultura clássica, tendo como fatores cruciais a ascensão comercial e o crescimento das cidades. Até aí, nenhuma novidade para quem estuda na ETMD de Cubatão, a Escola Técnica de Música e Dança “Ivanildo Rebouças da Silva”.
Mas que tal sentir como é sair da teoria para a prática em relação à história da música e dança ainda na época medieval? Foi com este propósito que a Escola, situada na Vila Nova, realizou nestas quinta e sexta (13 e 14) uma ação como parte do Projeto Pedagógico da unidade, que integra o escopo da Secretaria Municipal de Educação (Seduc): a Oficina gratuita de Música e Dança Renascentistas, ministrada pelo prof. Dr. Mário Orlando Mendes Guimarães, especialista em instrumentos e danças do período.
A oficina tem como objetivo aprimorar o desempenho artístico dos participantes, com foco no desenvolvimento de habilidades em dança e música, aprofundando a dinâmica renascentista. As atividades ocorreram em dois períodos em cada dia, das 15h às 18h e das 19h às 21h, envolvendo músicos e bailarinos. A atividade foi voltada a participantes com conhecimento prévio, tendo músicos com domínio intermediário em instrumento (percussão, cordas, sopros ou piano) e leitura de partitura; além de bailarinos com experiência em ballet clássico, dança contemporânea, jazz, sapateado ou outras linguagens que envolvam ritmo e expressão corporal.
Nos quatro períodos da oficina, o professor Mário Orlando abordou a importância de se falar do que foi o movimento renascentista envolvendo a música e da dança, explicando que ela ficou por muito tempo no esquecimento, pois quase ninguém tinha acesso a livros que retratavam aquele período e que este resgate começou há 140, 150 anos, justamente quando as pessoas interessadas em conhecer a história da arte começaram a ter mais acesso à literatura e a documentos com os registros da época. Para o professor, “não há como falar ou retratar a história da arte sem passar pela música e pela dança, são coisas intrínsecas. Ele enfatizou que, lá fora, a Cultura de cada país valoriza bastante o movimento da renascença na questão da arte. “Apesar de não ser nossa a origem do movimento, devemos também fazer o mesmo aqui, pois quem ganha com isso é a própria arte, que nunca deve de abrir mão da sua rica história”.
Ele explicou e mostrou aos participantes quais são os passos e as danças apresentadas no período que marcou o Renascentismo na Europa, danças que eram praticadas majoritariamente nos eventos da nobreza. Que à medida que iam ocorrendo casamentos entre os nobres de nações diferentes, principalmente entre príncipes e princesas, reis e rainhas, os hábitos das artes eram levados para onde o casal fosse morar. Com isso, foi se espalhando pela Europa ocidental a partir da Itália, já no segundo período conhecido como a baixa idade média, caracterizada por transformações econômicas e sociais, como o renascimento das cidades e do comércio.
“Importante ressaltar que eram danças típicas de salão, com toda uma coreografia e uma vestimenta propícia. As festas eram tidas como o momento do par se conhecer melhor e ter a primeiras impressões, sempre marcada pela melodia dos instrumentos como alaúdes, flautas, violas da gamba e que, posteriormente, foram introduzidos outros instrumentos mais modernos como os violões e violinos, enfatizou o especialista.
Na atividade do segundo dia, os alunos aprenderam o Passo da Pavana (‘Pavana Belle Qui Tiens Ma Vi’), ao som da música pavaniana muito tocada e dançada nos casamentos, principalmente na Itália e na França (a partir de 1589). Em seguida, eles ficaram conhecendo o estilo Country inglês, mas o da sua origem na Inglaterra, que se chama ‘If All The World Were Paper’ (de 1551 em diante), e também o ‘Banle des sabots (das tamancas)’ e o ‘Banle da Tochas’. No dia anterior, eles já haviam aprendidos as formas ‘Banle Simples’ e ‘Banle Dupla’ (todas com partituras de 1.612) e também o ‘Bourée D`Avignonez’ (de 1690).
Já no período da noite da sexta (14), marcando o encerramento das atividades, com instrumentos disponibilizados pela escola e bailarinos, houve a concretização aos participantes da prática coletiva em música de câmara, coroada com a produção de uma apresentação final, integrando músicos e bailarinos. Nesta parte, eles se apresentaram a caráter, com roupas adequadas e típicas à prática da época e trabalharam técnicas de composição coreográfica com base na estética renascentista. Também propiciou aos músicos o contato com a execução de repertório do período em conjunto de música de câmara.
Repercussão – Ao final, o professor agradeceu aos alunos pelo desempenho se disse lisonjeado pelo convite da ETMD e que ficou maravilhado com a experiência tida na escola. “O legal aqui foi o privilégio que tive de realizar essa oficina com música ao vivo. Normalmente, na maioria dos lugares, eu tenho que levar as canções gravadas e um equipamento para tocá-las para que eu possa mostrar e ensinar as coreografias. Aqui na ETMD de Cubatão, pode realizar as atividades com instrumentos reais e alunos familiarizados com a história e preparados para a oficina. Aprenderam os movimentos com facilidade e se mostraram bastante aplicados”.
O professor afirmou ter sido um prazer enorme realizar essa oficina e conhecer uma unidade com o suporte da ETMD. “Incrível o que eu presenciei e vivi aqui estes dois dias, com um corpo docente e discente que fazem desta escola pública uma referência na qualidade do ensino desta arte tão importante para a humanidade, seja na história antiga, moderna e contemporânea. Parabéns Cubatão por manter na Secretaria de Educação esta unidade de expressão cultural tão relevante”, finalizou.
Quem acompanhou de perto as várias atividades da oficina oferecida aos alunos foi a professora Fernanda Lopes, que leciona aulas de flauta doce e piano. Ela é a idealizadora do Projeto que apresentou à Seduc para a Escola. “Durante 18 anos, eu fui integrante do Grupo Rinascita de Cubatão que, por sua natureza, desenvolvia músicas antigas, históricas. Desde que eu entrei para a ETMD, eu sempre tive a vontade de desenvolver um projeto dessa envergadura, com este propósito para aplicar aqui. E eis que apresentei à Seduc e tive o apoio para o colocar em prática esse projeto. O segundo passo era convidar e trazer um especialista no assunto. E tivemos a grata satisfação de o prof. Mário Mendes aceitar o convite. Foi uma honra recebê-lo aqui para uma oficina dessa qualidade, desse viés histórico e prático. De fato, o privilégio foi de todos nós por tê-lo aqui na ETMD nos prestigiando com a sua técnica e o seu vasto conhecimento”.
O depoimento da professora Fernanda foi corroborado pela opinião dos alunos. Os do 3º ano ‘Técnico de Dança’, por exemplo, de forma geral, disseram que “nós conhecíamos o tema da oficina pelos estudos teóricos que aprendemos tanto na disciplina ‘História da Dança’ (no 1º ano) quanto na matéria ‘Música para Dança’ (no 2º ano). Mas na prática, como foi aqui, com a riqueza da experiência que possui na questão dos tipos de dança do Renascentismo foi muito interessante e agregou bastante para nós que vamos no formar no final deste ano”, comentou uma parte da turma. “É muito diferente no sentido de enriquecimento prático da época. É como se tivéssemos nos transportado no tempo ou participando de um filme medieval. A sensação ao participarmos das coreografias com os toques dos instrumentos típicos daquele período foi como ter aquele conhecimento saindo do nosso imaginário e entrando para o nosso corpo. Quase que uma verdadeira viagem no tempo” completou o restante da turma.
O secretário de Cultura, Omar Bermedo, também prestigiou a atividade no seu segundo dia e disse ter ficado muito satisfeito com o que pôde presenciar: Esse resgate da riqueza da arte, de trazer aquele movimento para os dias atuais é encantador. Muito lindo tanto para quem participa quanto para quem assiste ao desenrolar das coreografias e dos sons dos instrumentos. O que vi nas demonstrações foi arte pura. Um resgate que vale a pena. Parabéns à Seduc e à Escola por implementar esse projeto”, resumiu Omar.
Cabe reforçar que a ETMD oferece 35 vagas para músicos e 20 vagas para bailarinos e as inscrições terminam quando as vagas forem preenchidas. As inscrições podem ser feitas na própria unidade ou pelo WhatsApp (13) 3372-9236. A escola fica na Av. das Nações Unidas, 168, na Vila Nova.
Sobre o Professor – Atualmente cursando o doutorado no tema da Oficina em questão, Mário Orlando Mendes Guimarães é multi-instrumentista, mestre em Belas Artes pelo Sarah Lawrence College (Nova York/EUA) e doutor em Artes pela USP, com pesquisa dedicada à dança renascentista. Além da carreira como intérprete, dedica-se ao ensino de viola da gamba e danças renascentistas, ministrando oficinas e cursos em diversos festivais no Brasil. Tem no seu histórico a atuação por mais de 40 anos no Conjunto de Música Antiga da UFF, com o qual gravou CDs, participou de turnês internacionais e do longa-metragem ‘A música do tempo’ (em 2017). Também integrou grupos como ANONIMUS, Quadro Cervantes, Quadro Antiquo e Tandaradei, e se apresentou em festivais no México, Equador, Portugal, República Tcheca e Ucrânia.
A Prefeitura de Cubatão está alinhada aos 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da ONU. Esta iniciativa integra o caminho proposto para efetivação da Agenda 2030: ODS 4 (Educação de qualidade), ODS 10 (Redução das desigualdades), ODS 11 (Cidades e Comunidades Sustentáveis) ODS 17 (Parcerias e Meios de Implementação). Conheça os ODS propostos em https://brasil.un.org/pt .
Por: Secom Cubatão/IP
Fotos: Secom Cubatão


















